J'accuse e assim

ilustração do Zero à Esquerda
Os blogs foram atacados por uma vaga de musicalidade. O leitor incauto vai dar uma voltinha pelos seus favoritos e é invadido pela banda sonora dos ditos, sem mais nem aquelas. O som, em si, é sempre agressivo quando inesperado e, no caso, a minha reacção instintiva é fechar imediatamente a página. Para ser sincera, a minha reacção instintiva passa também por uma interjeição retumbante. Caros favoritos, não é forçoso que ao visitante apeteça ouvir música e, enquanto desliga e não desliga o som, já o tímpano lhe foi violado. E a violação de tímpanos é uma actividade hiper anti-social.
Alegam alguns que um blog fica muito mais bonito com música. Bom, um naperon em cima do header era capaz de ter o mesmo efeito e preservava a membrana alheia. Pensando bem, ignorem a do naperon, que a membrana óptica também come. Depois, há os teóricos do blog como experiência global… céus, aposto que se pudessem colocavam um ambientador ao lado do sitemeter. E as papilas gustativas também teriam direito à vida, não? Há, ainda, quem remeta a responsabilidade para a partilha. Partilhar gostos e dar a conhecer preferências é, de facto, um argumento quase irrefutável. Eu disse quase. Ofereçam a partilha, não a imponham: ouvir música deveria ser escolha, em vez de a opção ser silenciá-la.
O problema é que o GF se debate com um surto de "casa de ferreirismo" e arrisco-me a ter de engolir a diatribe, quero dizer, o bom senso. Verdade, andam por aqui dois melómanos a sonhar com playlists para impor aos visitantes incautos. Sorte que são ambos informaticamente desfavorecidos e ainda não conseguiram convencer o calaceiro guardador do template a mexer-se. O que me permite dizer, pela primeira vez sem evidentes intuitos mobilizadores disfarçados de comentários escarninhos (pigarreio subtil), que neste blog a quietude está bem e recomenda-se.
(em fundo, estão a ouvir a conhecida canção revolucionária, "a preguiça é uma arma/eu não sabia" e mais uns pigarreios)